Sussurros do Sorraia

Última actualização a 4 de Junho de 2025

4th June 2025

Viagens e Virtudes: O Executivo de Coruche em Missão à Bulgária

Pela enésima vez, o executivo da Câmara Municipal de Coruche lá fez as malas — cuidadosamente escolhidas para caber tanto dossiers como uns sapatos de verniz para o jantar oficial — e partiu em mais uma missão internacional. Desta feita, o destino foi a Bulgária, e o motivo, dizem, foi a participação num projecto europeu sobre como as comunidades marginalizadas são afectadas pela transição para a neutralidade climática. Sim, leu bem. Nada como um bom destino europeu para reflectir, com o devido espírito solidário e uma taça de vinho local, sobre os desafios climáticos dos outros.

Naturalmente, o comunicado oficial fala de “representar os melhores interesses do concelho” e de “trocas de experiências fundamentais para o futuro sustentável da vila”. Mas nos cafés da vila — sempre mais informados do que qualquer acta de reunião — comenta-se outra versão, ligeiramente mais condimentada: férias à borla é com este executivo. E quanto mais longe, melhor.

Quem não se lembra da célebre (alguns diriam infame) expedição a Itália? Era suposto irem jovens do concelho, num programa de intercâmbio cultural. Mas vá-se lá saber como — talvez tenham trocado os nomes num ficheiro Excel — acabaram por ir elementos do executivo camarário. “Ah, foi uma substituição de última hora”, disseram. Pois. Até hoje ninguém viu rasto de qualquer jovem de Coruche em solo italiano, só selfies sorridentes de quem já não tinha idade para este programa.

Diz-se por aí que cada vez que se fala em "projectos europeus", os olhos do executivo brilham mais do que os LEDs das iluminações da Ficor. E não é por acaso. Afinal, entre discursos sobre inclusão e jantares pagos com fundos comunitários, há sempre tempo para umas excursões culturais, uma degustação do queijo local e talvez até uma selfie com um burocrata de Bruxelas.

Mas calma, que tudo isto é "pela vila". Pela vila, naturalmente. Como sempre.

29th May 2025

Trabalho Extra? Ou a Trindade da Má Vida?

Enquanto o concelho de Coruche anda embriagado com o perfume das autárquicas — debates acesos, promessas reluzentes e cartazes com mais retoque que uma capa da Caras — eis que, pela calada da noite e longe dos olhares das senhoras respeitáveis da vila, nasceu um novo templo… Mas não é um templo de fé, nem de cultura. É um altar moderno, devoto da Santa Trindade da Má Vida: Mulheres, Jogo e Álcool.

Sim, leu bem. Um novo estabelecimento, desses que oficialmente são “locais de convívio” (com muita ênfase no convívio), mas que no boca-a-boca popular já ganhou nomes menos diplomáticos. Um sítio onde o barulho das fichas e o tilintar dos copos abafam o som da consciência, e onde se entra com um sorriso maroto e se sai, por vezes, com a carteira mais leve… e a alma também.

Dizem os donos — com ar muito sério — que é só um espaço para amigos se juntarem, conversar, jogar umas cartas, beber um copinho… enfim, nada de mais. Mas os corredores da vila já murmuram outra coisa. E os sorrisos cúmplices dos frequentadores, que tentam não ser vistos mas aparecem sempre na vizinhança, também contam uma história ligeiramente diferente.

Portanto, minha senhora, da próxima vez que o seu marido disser que tem tido mais “trabalho que o habitual” e por isso é que chega tarde a casa, ou que ia “só ali” beber uma mini com os amigos e, por azar, o relógio decidiu andar depressa demais e ele só voltou depois da meia-noite… respire fundo, sorria, e lembre-se: o novo santuário da perdição está mais activo do que nunca.

E atenção, porque neste caminho já muito empresário se perdeu, muito casamento apanhou solavanco, e muitas promessas de “é só desta vez” ficaram penduradas como as contas do bar. Mas vá, sempre é bom saber que em Coruche, para além de política de bastidores, também há diversão… de bastidores.

23rd May 2025

Volta Coruche… ao Passado?

Já aqui tínhamos falado do famigerado Movimento Independente que se preparava para entrar na dança das próximas autárquicas em Coruche. Pois bem, caiu finalmente o pano (como se houvesse alguma dúvida) e foi revelado aquilo que já toda a vila sussurava entre um café e uma torrada: o Volta Coruche vai ser liderado pelo antigo presidente da Câmara Municipal — esse mestre do ziguezague partidário que já foi da CDU, depois do PS, e agora, num acto sublime de camuflagem política, aparece como… independente.

Sim, independente. Tão independente quanto um guarda-chuva em dia de tempestade partidária. Apresenta-se agora como o novo D. Sebastião de Coruche, saído das brumas eleitorais, de espada em punho e cartaz na mão, pronto para salvar a vila da desgraça — ou pelo menos é essa a narrativa poética que por aí anda. Mas os coruchenses, já vacinados contra discursos messiânicos, olham para o regresso do salvador com a típica desconfiança de quem já viu este filme… e não gostou do final.

Há quem diga — e diz-se com convicção — que esta súbita paixão pelo futuro de Coruche nasceu, por acaso, quando o lugarzinho que ocupava na Ecolezíria se evaporou. E evaporou-se entre críticas, queixas e insatisfação generalizada quanto à qualidade dos serviços prestados pela empresa intermunicipal. Saiu de mansinho, como quem não parte mas foge, debaixo de uma nuvem de má gestão e ainda com o eco dos protestos dos munícipes a soar ao longe.

Agora, como um actor de teatro experiente, muda de fato, muda de palco, mas o guião é o mesmo. Grita por renovação, mas carrega consigo o peso de um passado que muitos não esqueceram. Porque por muito que se pinte de novo, há tintas que não cobrem certos desgastes.

E enquanto ele fala do “futuro” da vila com ar compenetrado e promessas recicladas, há quem veja neste Volta Coruche não uma viragem para a frente, mas sim uma inversão de marcha. Porque se ganhar, o mais certo é que o futuro que nos espera seja apenas uma paragem nostálgica numa estação de comboio onde já ninguém quer embarcar.

No fim de contas, que seria da política local sem o seu eterno baile de máscaras?

19th May 2025

Milhares em Tendas, Zero na Saúde: A Arte da Prioridade em Coruche

Coruche, essa vila de contrastes, acordou agora a saber que a nossa generosa Câmara Municipal gastou mais de 200 mil euros em… tendas para a Ficor. Sim, leram bem: uma verdadeira fortuna empregue em tecidos e estacas, para garantir sombra e glamour aos visitantes e feirantes. Parece que, quando se trata de festas e festinhas, o dinheiro escorre a rodos— e em plena época de crise, não há ocasião que não mereça aconchego digno de festival internacional.

Entretanto, para fazer a limpeza das estradas esburacadas ou para avançar com as tão prometidas melhorias no Centro de Saúde, lá vem sempre o mesmo refrão: “Não há verbas”. Pois não há, claro… Porque verba que vai para festança nunca falta. Afinal, quem precisa de cuidados médicos ou de ruas transitáveis quando se pode passear à sombra de lonas novas e coloridas?

Não admira, então, que muitos moradores se queixem desta estratégia com ar de choque… mas muito poucos esperam mudança. A jogada é óbvia: festas ganham eleições. E com as ameaças do Chega a crescer e o tal Movimento Independente a prometer mundos e fundos, o PS não quer arriscar perder votos por falta de animação. Se há balão financeiro, que seja branco, rosa ou laranja— desde que traga gente ao núcleo duro das urnas.

Há quem, nos cafés e nas filas do pão, se reúna para murmurar teorias da conspiração. Uns juram que o dinheiro não vai todo para as tendas; há partes que se perdem pelo caminho, dizem, entre ajustes de favores, renovações mal explicadas e uns quantos “extras” que ninguém ousa detalhar. Claro que tudo não passa de boatos… mas, em Coruche, onde cada cêntimo tem história, rumor que é rumor não costuma morrer solteiro.

E assim seguimos: com tendas sumptuosas a cobrir ruas, mas com poças e buracos a lembrar-nos de que, por cá, o bem-estar real fica sempre em último lugar. Porque no final, o mais importante é que a música nunca pare, mesmo que, por trás dos aplausos, o povo permaneça às escuras sobre as verdadeiras contas do festim.

11th May 2025

Mistério, Canapés e Confidencialidade: Crónicas da Quinta Grande

Na sempre tranquila vila de Coruche, onde o mais excitante costumava ser a discussão sobre a cor das luzes de Natal, eis que surge um novo foco de intriga digno de novela venezuelana com produção britânica: a Quinta Grande.

Sim, essa mesma — o recanto campestre que, durante anos, albergou casamentos, baptizados e jantares de empresa com bacalhau seco e vinho ao balde, tornou-se agora o epicentro de eventos ultra-exclusivos que fariam corar qualquer reunião do Clube Bilderberg.

Ao que parece, nos últimos tempos, têm-se realizado ali eventos tão discretos que até os ecos das conversas parecem sair de fininho. E como se não bastasse o secretismo habitual, diz-se — com aquele tom sussurrado que só os cafés sabem ter — que todos os trabalhadores e empresas de catering são obrigados a assinar contractos de confidencialidade dignos da CIA. Sim, leu bem: nem um croquete pode ser servido sem o silêncio jurado sobre quem o comeu.

Há quem diga que até os guardanapos têm número de série e que se alguém tirar uma fotografia do serviço de mesa corre o risco de acordar com os talheres todos derretidos no porta-luvas do carro. Outros afirmam que já ali entraram figuras com tanto poder que o simples som das suas vozes fazia os jarros de sangria tremerem.

A especulação, como é óbvio, está ao rubro. Fala-se de acordos empresariais, encontros políticos, pactos secretos e até de um suposto jantar onde se decidiu o futuro de vários cargos autárquicos... entre o soufflé de espargos e a mousse de alfarroba. Tudo, claro, sem testemunhas — a não ser o pobre empregado que assinou três folhas de confidencialidade e ainda teve de levar o carro ao mecânico porque a suspensão não aguentou com a pressão.

Por agora, tudo se mantém envolto num manto de mistério, pratos requintados e muita segurança. Mas como todos sabemos, em Coruche nem os segredos mais bem guardados resistem à língua afiada de quem toma café de manhã e vinho ao almoço.

Aguardemos. Porque entre tachos, sorrisos e sigilos, alguém acabará por entornar o molho.

6th May 2025

Sabores do Touro Bravo ou Sabores do Escândalo?

Ora aí está, mais uma edição dos afamados Sabores do Touro Bravo, esse festival gastronómico que promete todos os anos trazer o melhor da tradição à mesa — mas, como vem sendo hábito, também traz à superfície o pior dos bastidores.

Este ano, o burburinho todo não foi provocado por um prato demasiado salgado ou uma bifana mal passada. Não senhor. A verdadeira “iguaria” servida ao povo veio sob a forma de mexerico bem quente, cozinhado longe dos olhos do público mas servido com fartura nas conversas de café.

Ao que parece, uma das tasquinhas do certame tornou-se palco de um momento… digamos… menos gastronómico. Durante uma vistoria surpresa, um inspector da organização terá surpreendido dois elementos da equipa envolvidos numa actividade que, embora envolvesse suores e movimentos rítmicos, estava longe de ter a ver com tachos ou temperos. A descrição mais generosa que se ouviu foi “actividade extra-culinária”, embora os presentes tenham usado termos menos diplomáticos.

Alguns dizem que era apenas um descanso merecido entre turnos — o que, a julgar pelo entusiasmo relatado, deve ter sido o mais revigorante dos intervalos. Outros juram que ouviram mais gemidos do que panelas e tachos a bater. E depois há os que se mantêm em silêncio, mas que piscam o olho com aquele ar de “já sabia que aquilo andava a ferver há semanas”.

A verdade é que a barraca foi desmontada discretamente, sem grandes alaridos, mas como em Coruche nada se esconde por muito tempo, a história já circula com várias versões, cada qual mais apimentada que a anterior.

E assim se prova mais uma vez: nos Sabores do Touro Bravo, nem tudo o que se cozinha vem da cozinha.

27th April 2025

25 de Abril à Coruchense: Cravos, Gritos e Campanha Disfarçada

Este ano, em Coruche, o 25 de Abril foi celebrado com toda a dignidade habitual… ou melhor dizendo, com a dignidade possível quando meia vila aproveita a ocasião para medir forças políticas como se estivesse numa tourada sem touro.

Os ânimos, esses, estiveram tão exaltados que, a certa altura, já ninguém sabia se se estava a celebrar a Liberdade ou a disputar quem berrava mais alto. O ambiente era tão tenso que até os cravos, coitados, pareciam murchar só de ouvir certas bocas.

Naturalmente, a proximidade das eleições legislativas e autárquicas ajudou a incendiar ainda mais as festividades — porque, como todos sabem, não há melhor maneira de homenagear a Revolução do que fazer campanha eleitoral disfarçada, enquanto se empunha uma bandeirinha e se canta “Grândola, Vila Morena” com lágrimas de crocodilo.

Vários elementos da população, ligados ou simpatizantes de partidos políticos, já andam em “modo campanha” descarado, entre abraços forçados, promessas de café grátis e sorrisos tão esticados que até metem medo às crianças.

Ninguém quis perder a oportunidade de “marcar terreno”: o centro da vila parecia mais um mercado de peixe político, com trocas de acusações subtis, olhares fulminantes e beijinhos no ar que, no fundo, vinham com punhaladas nas costas incluídas.

E, como não poderia deixar de ser, já houve direito a escândalo da praxe: um conhecido elemento local, demasiado entusiasmado em mostrar o seu “espírito revolucionário”, terá aproveitado a ocasião para fazer comentários pouco simpáticos sobre adversários políticos… sem saber que estava a ser filmado. Diz quem ouviu que as pérolas ditas dariam para preencher um caderno inteiro de insultos criativos. O vídeo, claro, já circula de telemóvel em telemóvel, com direito a gargalhadas, apostas sobre quantas desculpas públicas vão ser necessárias, e até propostas para o senhor abrir uma carreira paralela como humorista.

Resta saber se, depois de tanta liberdade de expressão fervorosa, sobrará paciência para aturar mais uns meses de politiquice rasteira até às urnas.

Porque em Coruche, celebrar a liberdade é bonito… mas aproveitar a festa para começar a guerra pelo poleiro é que é tradição da casa!

22nd April 2025

Divórcio à Coruchense: Mistério, Suspiros e Boatos com Café

Em Coruche, vila onde todos sabem de tudo… excepto o que realmente importa, deu-se recentemente um acontecimento que deixou a população em estado de choque leve — aquele tipo de choque que ainda permite comentar a situação cinco vezes por dia no café, com um pastel de nata na mão e uma sobrancelha levantada.

Um casal ilustre, desses que já fazia parte da mobília da terra, com décadas de casamento e filhos adultos, decidiu pôr fim à união. Assim, de um dia para o outro. Um silêncio ensurdecedor caiu sobre os habituais frequentadores do mercado e dos bancos de jardim. Diz-se que nem a própria família estava preparada — o que, convenhamos, em Coruche, é obra.

As razões? Ah, essas são o verdadeiro mistério.

Uns sussurram que foram “diferenças irreconciliáveis”. Outros, mais dados ao drama, já falam de forças astrais, alinhamentos planetários ou até de um feitiço mal quebrado nos anos 80.

O que é certo é que, por enquanto, ninguém sabe… mas todos especulam. E, como se sabe, em Coruche a especulação é o desporto local favorito — logo a seguir à Sueca.

Entre os suspiros e os boatos, uma certeza começa a ganhar força: há mais por detrás desta separação do que um simples “deixámos de nos entender”. Porque, sejamos francos… quem se divorcia assim, depois de tantos anos, sem deixar pelo menos uma pista ou uma indirecta no Facebook?

Resta-nos esperar, com a curiosidade aguçada e a língua afiada, pelo próximo capítulo deste folhetim coruchense. Porque se há coisa que a vila sabe fazer bem… é acompanhar uma boa novela.

17th April 2025

Boi Dorme Mas Não Esquece — Crónica de um Aldrabão com Azar

Em Coruche, onde o comércio de gado roça a arte ancestral, já ninguém se espanta com a presença habitual de certos artistas do embuste — verdadeiros mestres do “paga-se para a semana” e do clássico “isto agora está difícil, mas sou homem de palavra!” — especialistas em empurrar a verdade com a barriga, embrulhar aldrabices em conversa melosa e fugir ao compromisso com a destreza de gato em telhado de zinco quente.

Entre esses ilustres da esperteza saloia, há um nome que sempre se destacou. Um verdadeiro especialista em vender ilusões bem empacotadas, com um sorriso nos lábios e as mãos sempre estendidas para receber… mas nunca para devolver. Durante anos, viveu assim: prometendo mundos, vendendo promessas vazias e convencendo os incautos com a convicção de um padre em dia de sermão.

Mas, como a história ensina, até o mais afinado dos vigaristas acaba por encontrar quem não tenha paciência para fábulas nem tempo para lenga-lengas.

E foi exactamente isso que aconteceu quando o nosso amigo decidiu aplicar uma das suas habituais manobras a um negociante de gado mais… impaciente, digamos. O guião era o de sempre: entrega feita, pagamento adiado, desculpas ensaiadas. Só que, desta vez, o desfecho foi outro.

Dizem que o homem lesado, conhecido pela frontalidade e por não gostar de ser feito parvo, não aceitou rodeios nem promessas de transferências imaginárias. Foi directo ao assunto e exigiu, ali mesmo, o que lhe era devido — sem mais tangas nem rodeios. O que se passou a seguir, segundo contam testemunhas entre o divertido e o espantado, foi digno de comédia antiga: o aldrabão, ao ver que a encenação não pegava, mudou de cor, gaguejou meia dúzia de frases e… pirou-se. Desapareceu do mapa como quem se lembra, de repente, que deixou o lume aceso em casa.

Agora, há quem diga que anda por aí, a tentar juntar os trocos, envergonhado e em fuga do estrago que provocou. Outros garantem que é só mais uma pausa estratégica — à espera que tudo esfrie para voltar com nova história, novo “negócio da China” e o mesmo descaramento de sempre.

Afinal, em Coruche, a memória é longa… mas a paciência é curta. E quando o aldrabão erra no alvo, nem todos estão dispostos a sorrir e engolir em seco. Alguns querem o pagamento — com juros e lição incluída.

13th April 2025

O Milagre Africano — ou Como um Coruchense Foi, Viu e Voltou… Riquíssimo

Há histórias que fazem sonhar, e depois há histórias que fazem levantar sobrancelhas. Esta é decididamente da segunda categoria.

Quem por estas bandas não se recorda daquele nosso conterrâneo que, em tempos, andava a fugir aos credores como o diabo foge da cruz? Aquele que devia a meio mundo, que desapareceu de um dia para o outro, e que — como diz quem sabe das coisas — “até devia ao padeiro o pão de ontem”? E depois — surpresa das surpresas — reaparece, com ar distinto, relógio de ouro ao pulso, carro de alta cilindrada e um sorriso que parece saído de uma campanha publicitária.

A explicação oficial? “Conexões africanas.” Sim, foi isso que nos deram. África, esse continente de oportunidades infinitas e negócios misteriosos, onde aparentemente se fazem fortunas da noite para o dia, sem ninguém perceber bem como — nem querer perguntar.

Segundo consta, foi para “investir”. Mas há quem diga que os investimentos não se limitavam ao mercado legal, e que por trás dos sorrisos de colgate e dos almoços oferecidos está uma teia de negócios tão opaca como os vidros de um carro oficial depois de três mandatos e zero auditorias. Há quem fale em diamantes, outros murmuram sobre madeiras raras, e os mais atrevidos falam até em "serviços de consultoria" — esse termo tão elástico como conveniente.

O que é certo é que, agora, desfila pelas ruas de Coruche como um rei regressado de exílio. E curiosamente, muitos dos antigos credores, que há uns anos lhe queriam arrancar a pele, agora fazem vénias e convites para jantares.

Mas o povo não esquece. Nos cafés e tascas, murmura-se baixinho: “Com que então foi para África e voltou milagreiro…” Uns aplaudem, outros desconfiam, mas todos concordam numa coisa — há muito por contar nesta história. E quem sabe se, um dia destes, uma dessas “conexões africanas” não aparece por cá também… para recolher dividendos.