Volta Coruche… ao Passado?
Já aqui tínhamos falado do famigerado Movimento Independente que se preparava para entrar na dança das próximas autárquicas em Coruche. Pois bem, caiu finalmente o pano (como se houvesse alguma dúvida) e foi revelado aquilo que já toda a vila sussurava entre um café e uma torrada: o Volta Coruche vai ser liderado pelo antigo presidente da Câmara Municipal — esse mestre do ziguezague partidário que já foi da CDU, depois do PS, e agora, num acto sublime de camuflagem política, aparece como… independente.
Sim, independente. Tão independente quanto um guarda-chuva em dia de tempestade partidária. Apresenta-se agora como o novo D. Sebastião de Coruche, saído das brumas eleitorais, de espada em punho e cartaz na mão, pronto para salvar a vila da desgraça — ou pelo menos é essa a narrativa poética que por aí anda. Mas os coruchenses, já vacinados contra discursos messiânicos, olham para o regresso do salvador com a típica desconfiança de quem já viu este filme… e não gostou do final.
Há quem diga — e diz-se com convicção — que esta súbita paixão pelo futuro de Coruche nasceu, por acaso, quando o lugarzinho que ocupava na Ecolezíria se evaporou. E evaporou-se entre críticas, queixas e insatisfação generalizada quanto à qualidade dos serviços prestados pela empresa intermunicipal. Saiu de mansinho, como quem não parte mas foge, debaixo de uma nuvem de má gestão e ainda com o eco dos protestos dos munícipes a soar ao longe.
Agora, como um actor de teatro experiente, muda de fato, muda de palco, mas o guião é o mesmo. Grita por renovação, mas carrega consigo o peso de um passado que muitos não esqueceram. Porque por muito que se pinte de novo, há tintas que não cobrem certos desgastes.
E enquanto ele fala do “futuro” da vila com ar compenetrado e promessas recicladas, há quem veja neste Volta Coruche não uma viragem para a frente, mas sim uma inversão de marcha. Porque se ganhar, o mais certo é que o futuro que nos espera seja apenas uma paragem nostálgica numa estação de comboio onde já ninguém quer embarcar.
No fim de contas, que seria da política local sem o seu eterno baile de máscaras?