25 de Abril à Coruchense: Cravos, Gritos e Campanha Disfarçada
Este ano, em Coruche, o 25 de Abril foi celebrado com toda a dignidade habitual… ou melhor dizendo, com a dignidade possível quando meia vila aproveita a ocasião para medir forças políticas como se estivesse numa tourada sem touro.
Os ânimos, esses, estiveram tão exaltados que, a certa altura, já ninguém sabia se se estava a celebrar a Liberdade ou a disputar quem berrava mais alto. O ambiente era tão tenso que até os cravos, coitados, pareciam murchar só de ouvir certas bocas.
Naturalmente, a proximidade das eleições legislativas e autárquicas ajudou a incendiar ainda mais as festividades — porque, como todos sabem, não há melhor maneira de homenagear a Revolução do que fazer campanha eleitoral disfarçada, enquanto se empunha uma bandeirinha e se canta “Grândola, Vila Morena” com lágrimas de crocodilo.
Vários elementos da população, ligados ou simpatizantes de partidos políticos, já andam em “modo campanha” descarado, entre abraços forçados, promessas de café grátis e sorrisos tão esticados que até metem medo às crianças.
Ninguém quis perder a oportunidade de “marcar terreno”: o centro da vila parecia mais um mercado de peixe político, com trocas de acusações subtis, olhares fulminantes e beijinhos no ar que, no fundo, vinham com punhaladas nas costas incluídas.
E, como não poderia deixar de ser, já houve direito a escândalo da praxe: um conhecido elemento local, demasiado entusiasmado em mostrar o seu “espírito revolucionário”, terá aproveitado a ocasião para fazer comentários pouco simpáticos sobre adversários políticos… sem saber que estava a ser filmado. Diz quem ouviu que as pérolas ditas dariam para preencher um caderno inteiro de insultos criativos. O vídeo, claro, já circula de telemóvel em telemóvel, com direito a gargalhadas, apostas sobre quantas desculpas públicas vão ser necessárias, e até propostas para o senhor abrir uma carreira paralela como humorista.
Resta saber se, depois de tanta liberdade de expressão fervorosa, sobrará paciência para aturar mais uns meses de politiquice rasteira até às urnas.
Porque em Coruche, celebrar a liberdade é bonito… mas aproveitar a festa para começar a guerra pelo poleiro é que é tradição da casa!