Mistério, Canapés e Confidencialidade: Crónicas da Quinta Grande
Na sempre tranquila vila de Coruche, onde o mais excitante costumava ser a discussão sobre a cor das luzes de Natal, eis que surge um novo foco de intriga digno de novela venezuelana com produção britânica: a Quinta Grande.
Sim, essa mesma — o recanto campestre que, durante anos, albergou casamentos, baptizados e jantares de empresa com bacalhau seco e vinho ao balde, tornou-se agora o epicentro de eventos ultra-exclusivos que fariam corar qualquer reunião do Clube Bilderberg.
Ao que parece, nos últimos tempos, têm-se realizado ali eventos tão discretos que até os ecos das conversas parecem sair de fininho. E como se não bastasse o secretismo habitual, diz-se — com aquele tom sussurrado que só os cafés sabem ter — que todos os trabalhadores e empresas de catering são obrigados a assinar contractos de confidencialidade dignos da CIA. Sim, leu bem: nem um croquete pode ser servido sem o silêncio jurado sobre quem o comeu.
Há quem diga que até os guardanapos têm número de série e que se alguém tirar uma fotografia do serviço de mesa corre o risco de acordar com os talheres todos derretidos no porta-luvas do carro. Outros afirmam que já ali entraram figuras com tanto poder que o simples som das suas vozes fazia os jarros de sangria tremerem.
A especulação, como é óbvio, está ao rubro. Fala-se de acordos empresariais, encontros políticos, pactos secretos e até de um suposto jantar onde se decidiu o futuro de vários cargos autárquicos... entre o soufflé de espargos e a mousse de alfarroba. Tudo, claro, sem testemunhas — a não ser o pobre empregado que assinou três folhas de confidencialidade e ainda teve de levar o carro ao mecânico porque a suspensão não aguentou com a pressão.
Por agora, tudo se mantém envolto num manto de mistério, pratos requintados e muita segurança. Mas como todos sabemos, em Coruche nem os segredos mais bem guardados resistem à língua afiada de quem toma café de manhã e vinho ao almoço.
Aguardemos. Porque entre tachos, sorrisos e sigilos, alguém acabará por entornar o molho.